Estou publicando um texto produzido pelo jornalista Guto Villanova, do programa Sonoridades na Rádio da Universidade 1080 AM
Caro Paulo,
Caro Paulo,
Tenho uma idéia antiga de fazer uma série sobre alguns dos grandes nomes do rock argentino, vê o que tu acha do que escrevi e pesa se cabe no Urbanascidades, ok? EM anexo te mando coisas que pensei pra "encorpar" a matéria que escrevi. Também há vários links de outros blogs relacionados na matéria, o que acho vai fazer outras pessoas chegarem no Urbanascidades. I HOPE You like it!!! Fiz com muita paixão hehehehee
Guto
EL ROCK ARGENTINO - PARTE I
EL AGUANTE CHARLY
"Gostei de ler algo sobre um daqueles seres que escapam à morna normalidade dos seguidores de rebanhos."
Comment que colhi na web e que é um dos melhores que já vi sobre charly autoria de uma portuguesa de pseudônimo Lazuli clique aqui.
Poderia passar boa parte deste texto procurando explicações para o motivo do rock argentino nunca ter feito sucesso no Brasil. Tenho minhas teorias, claro, mas não é essa minha idéia, gostaria é de humildemente dividir com os leitores do blog um pouco da paixão e fascínio que certos artistas daquele país exercem sobre a minha pessoa. Um deles é o mito Charly Garcia, o único "rock star" made in Latin America. Foi lá no principiar da década de 1990, que ouvi no rádio uma canção do Charly chamada "Promesas sobre el bidet", um hit saído do fantástico álbum "Piano Bar" de 1985. Pirei!!! Que melodia incrível e que letra, o refrão jamais saiu da minha cabeça e às vezes do nada me pego cantarolando:
Porque me tratas tan bien, me tratas tan mal
Si sabés que no aprendí a vivir.
A veces estoy tan bien, estoy tan down.
Calambres en el alma,
Cada cual tiene un trip en el bocho
Difícil que lleguemos a ponernos de acuerdo
Ouça aqui Promesas sobre el bidet
É a magia da música e o talento extraordinário de Carlos Alberto García Moreno, nome de batismo da fera.
É a magia da música e o talento extraordinário de Carlos Alberto García Moreno, nome de batismo da fera.
Devo essa à Ipanema FM, pois naqueles tempos pré-internéticos, conhecer artistas e bandas, pelo menos para mim, era via rádio, revista Bizz e os cadernos de cultura dos jornais locais. Quase não assistia tevê por essa época, exceção à TV Pirata e Hollywood Rock in Concert. MTV era em UHF e pegava tão mal na casa dos meus pais que desisti de tentar, mesmo com a manha do bombril na ponta da antena. Ah claro, tinha os amigos, e aquele intercâmbio frenético de fitinhas k-7. Mas não lembro de ninguém citar o Charly como "sonzeira" naqueles teenager years, na real meus amigos não conheciam. Era uma fase de ouvir muito Metallica, Pantera e coisas mais pesadas como DEATH hehehee. Enfim...
Por essa época também conhecemos jogando bola na praia uns argentinos, e através deles, umas argentinas (Ah, a Alejandra era demaaaaaaais), todos from Posadas Misiones. Certa noite no centrinho (naquele época era "inho" mesmo) de Capão, indagado pela bela chica argentina sobre o que conhecia de música daquele país, respondi confiante: "Charly Garcia". Na real, era a única coisa que conhecia fora Mercedes Sosa e Argentino Luna, cujos discos meu pai ouvia em casa. E foi gol, pois falar em Charly Garcia e Maradona pra um hermano, é mexer com "dioses", dois ídolos que façam o que façam em sua vida privada, estão para a Argentina como Pelé e Senna para o Brasil, ou algo no estilo. Naturalmente, devolvi a pergunta: "Que conheces da música do Brasil?" Ela respondeu: "Paralamas", banda brasileira que muito provavelmente seja o único exemplo de sucesso massivo deste país por aquelas plagas, o resto foi e é apenas perfumaria. Tá tem a Rita Lee que lota teatros quando se apresenta lá, e antes disso teve o Poetinha Vinicius de Moraes, that´s ok. Mas sucesso popular mesmo por lá tiveram os Paralamas entre 91 e 94. A Alejandra, la bela de Argentina, me falou que gostava muito de uma canção chamada "Linterna de los Afiebrados" heheehee.
Mas anos antes de eu começar a curtir o som do mítico roqueiro argentino já havia gente aqui em Porto Alegre tão ou mais entusiasmada pelo trabalho do cara, é o exemplo do meu colega jornalista Emilio Pacheco, outro filho da Famecos como este aqui que vos escreve, e que é um dos profissionais que melhor escrevem sobre música que conheço. Bom, há alguns anos tive a satisfação de entrevistar o Emilio lá na Rádio da UFRGS 1080 AM, e quando falei pra ele que tinha assistido ao show do Charly em Gramado em julho de 2004, e tinha ficado encantado, o Emilio, que também assistiu ao mesmo gig, disse do alto de quem viu cinco shows do cara: "Olha Guto, esse Charly que se apresentou em Gramado é muito diferente daquele que assisti em Porto Alegre nos anos 1980". Eu entendo o Emilio, pois ele teve o privilégio de ver o CHarly num momento fantástico da carreira, talvez o ápice, ali entre 86 e 87 o Charly tava voando. É só olhar os vídeos dos shows dessa época no Youtube. No show de 2004 o Charly jogou um sofá que estava em cima do palco dentro do Lago Negro, local da apresentação, e também inutilizou um telefone celular de uma fã jogando-o igualmente na água turva do Lago. Charly já começou "de lado" aquele show numa fria tarde de inverno na serra gaúcha cumprimentado a plateia presente com um: "Boa noite Porto Alegre!" hahaahaha. Charly pode tudo, mas dizem e não é de hoje que desde meados dos anos 1990 ele é mais o personagem que ele criou para si mesmo (um rock star por vezes demencial), do que o fabuloso músico e compositor que encantou a todos nos anos 70 e 80 com algumas das canções mais lindas do continente.
Antes de Gramado, assisti ao Charly no 1º Planeta Atlântida lá em 1996, lembro que meus amigos e amigas dispersaram na hora do show do argentino, só eu restei encantado com o que assistia. No fundo a música é uma experiência individual mesmo heheehehe.
Anyway, compartilho com vocês agora um trecho do show de Charly em Gramado no ano de 2004, pois um jornalista sem gravador não é nada rssssss. Afora a brincadeira, valeu muito ter levado junto o gravadorzinho.
Uma vez entrevistando o guitarrista Tchê Gomes (TNT, Tenente Cascavel, Supervelhas) ele me disse que gravou um dos shows que o Charly fez no finado Teatro da Ospa em 86 (com Fito Páez nos teclados) Bota preciosidade nisso! Essa foto do cartaz do show do Charly em POA está no excelente blog do meu colega Emilio Pacheco clique aqui
Outra admiradora da obra do Charly que conheço é a talentosa e queridíssima cantora e compositora porto-alegrense Adrianè Muller clique aqui, que me contou certa vez que tem em casa os LPs de alguns álbuns clássicos da carreira solo do maior nome do rock argentino, e também trabalhos dele anteriores como o Sui Generis e o Seru Giran, que ela encontrava para comprar na seção de importados da também finada loja Pop Som que ficava na Galeria CHaves, que marcou toda uma geração de aficionados por música lá na década de 80. Mais detalhes sobre a Pop Som e a King´s Discos leia em clique aqui,
Outro colega jornalista e igualmente fã de Charly, o Mauro Borba da rádio Pop Rock, em seu livro "Prezados Ouvintes" elenca entre os seis melhores shows a que assistiu, o primeiro show de Charly no então Teatro Leopoldina (Ospa), lá em 1986. "Eu tinha sido o responsável pelo lançamento do Charly no rádio em POA e adorava os discos "Clics Modernos" e Piano Bar", conta Borba.
Another ícone do jornalismo cultural desta cidade a exemplo do Mauro é o Jimi Joe, que em meados dos anos 80 montou a banda "chalaça total" Atahualpa y os Punks, e que me confirmou em entrevista aquela história de que o Charly quando veio se apresentar em Porto ALegre, num estica pós-show foi ao Bar Ocidente, e lá teria achado fantástico e se divertido muito quando ficou de frente a um cartaz que promovia uma apresentação da banda Atahualpa y os Punks. Até o mais genial roqueiro da Argentina se rendeu ao brilhante trocadilho feito com o nome do legendário folclorista argentino Atahualpa Yupanqui (1908-1992).
Em 2003, resolvi fazer um especial no meu programa na Rádio da Universidade (http://www.ufrgs.br/radio/) sobre a cidade de Buenos Aires e seus bairros mais charmosos, para a trilha sonora fiz uma grande pesquisa sobre o rock argentino com o precioso e imprescindível auxílio da internet. A pesquisa me permitiu conhecer o trabalho de Charly no Sui Generis (1971-1975) e no Serú Girán, banda considerada os "Beatles Argentinos", que durou entre 1978 e 1982. Foram experiências musicais fantásticas de Charly antes de ele iniciar sua carreira solo. Através da tal pesquisa descobri que um site referência del rock argentino elegeu através de votação entre seus leitores, como melhor canción da história do rock en Argentina, "Seminare" do Seru Giran, composta em Búzios-RJ, quando CHarly Garcia e David Lebón moraram lá em fins dos anos 1970. Um fragmento da linda letra de "Seminare" que também jamais saiu da minha cabeça:
Material de divulgação feito à época para o programa Trip Musical Especial episódio "Fervor de Buenos Aires". Autoria do arquiteto Bruno Rigatti. Desde 2005, o programa alterou seu nome para Sonoridades, mas o prefixo e o horário continuam os mesmos.
SERU GIRAN EM 1979 Oscar Moro, D. Lebón, Pedro Aznar e Charly acima
Programa especial Fervor de Buenos Aires (título retirado do primeiro livro de poemas de Jorge Luis Borges), veiculado em duas partes no ano de 2003 pela Rádio da Universidade 1080 AM
Guto Villanova é jornalista formado pela PUCRS, desde 2003 produz e apresenta o programa Sonoridades (ex-Trip Musical e ex-Histórias Musicais) na Rádio da Universidade 1080 AM. É assessor de imprensa da MS2 Produtora de Porto Alegre e um apaixonado por música.
Si pudieras olvidar tu mente
frente a mi, sé que tu corazón
diría que sí.
Ouça Seminare do Serú Girán aqui
Material de divulgação feito à época para o programa Trip Musical Especial episódio "Fervor de Buenos Aires". Autoria do arquiteto Bruno Rigatti. Desde 2005, o programa alterou seu nome para Sonoridades, mas o prefixo e o horário continuam os mesmos.
Outro 'achado' que fiz com a pesquisa foi "Canción para mi muerte", autoria de Charly, e que está no primeiro LP do Sui Generis "Vida" de 1972. Outro trecho inesquecível de uma letra deslumbrante
Hubo un tiempo que fue hermoso
Y fui libre de verdad
Guardaba todos mis sueños
En castillos de cristal
Poco a poco fuí creciendo
Y mis fábulas de amor
Se fueron desvaneciendo
Como pompas de jabón
Charly Garcia e Nito Mestre, o duo Sui Generis
Programa especial Fervor de Buenos Aires (título retirado do primeiro livro de poemas de Jorge Luis Borges), veiculado em duas partes no ano de 2003 pela Rádio da Universidade 1080 AM
Em 2006 numa trip para Buenos Aires a ver Los Stones no Monumental de Nuñes, numa passadinha pelas lojas de discos da famosa calle Corrientes comprei um CD duplo de um maravilhoso show de 1981 do Seru Giran no Teatro Coliseo. O disco foi lançado em 2000 com o título de "Yo no quiero volverme tan loco", mais uma canção estupenda by Charly 'GÊnio' Garcia. Por meio de "Yo no quiero volverme tan loco" conheci uma das canções mais lindas do genial roqueiro argentino, chama-se "A los jóvenes de ayer", e, em minha opinião, é uma obra de arte, melodia e letra num patamar poucas vezes visto no rock n´roll. Eis um trecho da letra que gosto muito:
A simple vista puedes ver
como borrachos en la esquina de algún tango
a los jóvenes de ayer.
Empilchan bien, usan tupé,
se besan todo el tiempo y lloran el pasado
como vieja en matiné.
Meu grande brow Bruno que por essa época fazia o programa comigo lá na Rádio da UFRGS, e também estava entre os tantos gaúchos nesta barca pra ver os Stones, adquiriu por lá o álbum duplo que é o primeiro disco solo da fera de 1982. Pubis Angelical é um filme de Raúl de La Torre, baseado no livro homônimo de Manuel Puig. Curiosidade: por essa época Charly namorava a bailarina brasileira Zoca, ela ganhou até uma música com seu nome "Zoca Cola" (com participação de Herbert Vianna), que está no disco "Como conseguir chicas de 1989". O envolvimento amoroso entre o rock star argentino e a bailarina brasileira durou até 1990. Mais detalhes neste blog muito bacana: charlygarciaelautor.blogspot.com
Outro disco que adquiri nessa trip pra Buenos Aires foi
"La Grasa de Las Capitales" do Serú Girán, e que está entre as melhores coisas que já ouvi na vida. Gravado em 1979 é um álbum denso, dramático. Acho que naquela época não havia muito o que se celebrar mesmo com a ditadura argentina a mil e a música Disco dominando as rádios e as pistas de dança. Mas é um dos meus álbuns de cabeceira. São nove canções brilhantes, a maioria de autoria de Charly. "Noche de Perros" (Garcia - Lebón) poderia ter entrado no LP The Wall do Pink Floyd, mas com direito a uma menção em seu final à canção I Want you (She´s so heavy) dos Beatles. "Viernes 3 AM" (Garcia) é a melhor do álbum e fala sobre suicídio; a canção que dá título ao disco é uma crítica de Charly à "sociedade do espetáculo" de então (de lá para cá só piorou). As canções restantes eu deixo para você ouvir, saborear e procurar significados ocultos, afinal, música é subjetividade.
Encerro esta primeira parte do especial sobre o rock argentino que homenageou o mito Charly Garcia com minha última descoberta em se tratando da fera, um show que fez com Gilberto Gil em 1981 no estádio Obras Sanitarias em Buenos Aires. Neste show Charly toca a linda "No te dejes desanimar", canção sua que gravou no projeto setentista La Máquina de hacer Pájaros. A versão do show com Gil é arrebatadora.
No te dejes desanimar
No te dejes desanimar
Nunca dejes de abrirte, no dejes de reirte,
no te cubras de soledad
y si el miedo te derrumba
si tu luna no alumbra
si tu cuerpo no da más
no te dejes desanimar
basta ya de llorar
para un poco tu mente y ven acá
Estás harto de ver los diarios
estás harto de los horarios
estás harto de estar en tu lugar,
ya no escuchas el canto de los mares
ya no sueñas con lindos lugares
para descansar una eternidad
No te dejes desanimar
no te dejes matar
quedan tantas mañanas por andar.
EM anexo vai a canção seminare
Voltaremos!
Guto Villanova é jornalista formado pela PUCRS, desde 2003 produz e apresenta o programa Sonoridades (ex-Trip Musical e ex-Histórias Musicais) na Rádio da Universidade 1080 AM. É assessor de imprensa da MS2 Produtora de Porto Alegre e um apaixonado por música.
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